domingo, 9 de junho de 2013

Memórias perdidas: Os pupilos do Kuduro

Há seis anos atrás, nascia um promissor grupo de dança em Portugal, três rapazes que, de um momento para o outro se transformaram num fenómeno. Pisaram palcos, espalharam magia e surpreenderam todos à sua volta. Esta é a história de Hugo, Fábio e Pedro, os jovens que deram vida aos "Pupilos do Kuduro"
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Se regredirmos à década de oitenta, momento alto da história da musica, a par da ascensão de estrelas mundiais como Michael Jackson e Madonna vemos nascer, no continente Africano um novo estilo de dança: O kuduro.
Anos mais tarde, o sucesso caracterizado pela simplicidade e bom humor deste género musical chegou a Portugal e a adesão de miúdos e graúdos não passou indiferente aos amantes da dança
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Tudo começou na Escola Secundária, onde Pedro e Hugo se conheceram.
"Tinha acabado de chegar ao décimo ano e reparava que nos intervalos o Hugo estava sempre a dançar. Como estávamos em época de listas, decidi ir ter com ele e sugerir-lhe criarmos um grupo de Kuduro", disse Pedro.
Não se conheciam, mas o talento de Hugo não ficava indiferente a todos os que por ele passavam.
"Eu já dançava há algum tempo, com a minha turma de Artes, sempre tive uma paixão enorme por este estilo de dança".
A proposta foi aceite, mas faltava um elemento no grupo.
"O meu primo também dançava e achei que seria uma boa ideia convidá-lo para fazer parte deste coletivo." contou Hugo.

Pouco tempo depois, já os três dançavam juntos nos intervalos, mas estava em falta ainda um nome para o grupo.
"Reunimos-nos e achamos que Pupilos do Kuduro seria o nome ideal. A nossa inspiração na escolha foram os Pupilos do Exercito. O nome "pupilo" remete para aspirante a qualquer coisa, e na verdade era isso que nós éramos "aspirantes" a bailarinos"
O grupo já estava formado, e a escolha não podia ter sido mais acertada. Os intervalos pareciam pequenos ao pé da vontade de dançar. Por entre as gargalhadas surgiam movimentos únicos e expontantenos que a pouco e pouco os foram caracterizando.
Antes ainda da primeira atuação na escola, Elisio e Leo, que já dançavam para uma lista, repararam nos três rapazes e propuseram-lhes juntarem-se a eles e dançar os cinco pelos Pupilos do Kuduro.
No primeiro ano, as listas da escola foram um sucesso. Gravaram um vídeo que alcançou cerca de meio milhão de visualizações no Youtube e que, inesperadamente lhes ofereceu uma visibilidade extraordinária para um grupo de poucos meses.
"Não estávamos nada à espera de que aquele nosso vídeo fosse visto por tantas pessoas", afirmou Hugo

Alguns meses depois, novamente época de listas, as atuações já não se resumiam à escola que frequentavam, agora todas as escolas de Sintra os convidavam para dançar. "Chegamos a ter duas atuações por dia em escolas diferentes".
A aceitação do público crescia a cada dia que passava.
Dançaram no Casino do Estoril, em discotecas e colónias de Férias. O sonho estava a tornar-se real e o tempo passava a correr.
"Em 2008 enviei um e-mail aos Buraka Som Sistema, a falar-lhes do nosso grupo. Sinceramente não esperava feedback da parte deles, mas como não custa tentar...", contou Hugo
Contra as expectativas, o conceituado grupo respondeu e as noticias não podiam ser melhores: um convite para dançar num dos maiores festivais do país.
Ao mesmo tempo que o grupo ascendia, juntou-se um novo membro: Osvaldo, também ele bailarino de Kuduro há já algum tempo.

Os pupilos do Kuduro, agora com dois anos de existência, eram convidados para o Optimus Alive. Um sonho tornado real, para seis jovens que dançavam por pura diversão.
Foi um mês depois,no dia onze de Julho de 2007 em Algés, que os Pupilos subiram ao palco. O cartaz do dia era diversificado: De Bob Dylan a John Butler, focando claro o fim da noite, com Buraka Som Sistema.
Eram cinquenta mil pessoas a assistir e o nervoso miudinho não lhes saia do corpo.
"Estavamos todos do lado direito do palco, muito concentrados na musica. Tinhamos que entrar num minuto especifico, nem dava para pensar em mais nada"
A entrada foi explosiva. Vinte minutos depois da atuação dos BSS entraram os seis e deixaram ao rubro todo o publico presente no recinto. Acompanhados de mascaras que lhes escondiam a cara, fizeram o que de melhor sabiam fazer e o resultado estava à vista.
"Acabamos a nossa atuação e voltamos para dentro. Correu tão bem que o Condutor nos convidou para voltarmos a dançar na estreia da música "wegue wegue" dos Buraka."
Era um sonho tornado real. De um momento para o outro a vida tinha-lhes mudado. Do simples grupo que dançava na escola, os Pupilos do Kuduro, começavam a ser reconhecidos por todos os jovens que ficavam boquiabertos face aos movimentos que faziam transparecer.
Estiveram no backstage, contactaram com artistas como o Pacman dos Da Weasel, Deise Tigrona, Tekilla...
Os minutos seguintes estreavam um êxito e a responsabilidade era acrescida. A felicidade era desmedida e nem os nervos tomaram conta do freestyle a que os seis rapazes deram vida até ao final do concerto.
Quando desceram do palco, o feedback parecia ainda mais real.
"Lembro-me de estar a passar pelas pessoas, e vir ter comigo uma menina, acompanhada pela familia, a chorar e a pedir-me a minha mascara. É uma sensação unica, senterires que és reconhecido por fazer aquilo que gostas. É a melhor recompensa que podemos ter", confidenciou Pedro.
Depois do concerto a projeção aumentou. Os pupilos eram convidados para inúmeros espetaculos, a carreira estava numa ascenção constante.

A par da fama e convites insessantes para atuações, no interior do grupo faziam-se sentir alguns desentendimentos, ideias diferentes.
A espontaneadade caracteristica dos Pupilos do Kuduro parecia dar lugar a movimentos maquinizados. A simples paixão pela dança estava a tornar-se quase uma obrigação profissional. Afinal, o grupo tinha sido criado com bases muito claras: humor e diversão, que pareciam estar a desaparecer.
Pedro foi o primeiro a saír.
"Eu sempre disse que queria fazer do Kuduro um hobbie. À parte disso, sempre quis ter a minha vida própria .O destino que queriam impor ao grupo ia contra os objetivos iniciais."
Já sem Pedro, o grupo percorreu o país de Norte a Sul, chegando mesmo a fazer um Show oficial dos Pupilos do Kuduro, em Rio De Mouro.
Apesar do sucesso do grupo, a diferença de ideias mantinha-se e tornava-se insustentável.
Alguns meses depois, também Hugo abandonara o grupo, e apesar das tentativas de reconsideração da atitude tomada, o jovem manteve a sua ideia.
"Para mim paixão é diferente de profissão. Em vez de haver o simples gosto pela dança começava a haver um esforço para a sua realização. Sempre levamos este trabalho de uma forma natural e emocionante e nunca como uma obrigação"
A par desta conjuntura, Fábio começara a dedicar-se a um outro estilo de dança, que conciliava com o grupo de Kuduro, o que não agradava certos membros dos pupilos.
Agora, sem dois dos seus grandes pilares, os pupilos pareciam estar a desmembrar-se: os ideias pelos quais se regiam eram outros, a motivação desaparecia a cada dia que passava.
Não levou muito tempo até Fábio tomar a mesma decisão que os amigos e saír.
Os três elementos fundadores do tão conceituado grupo de dança, estavam a abandonar o projeto. Não por vontade própria mas sim porque aquele grupo já não era o que um dia contruiram na escola secundária. Os objetivos tinham sido alterados, as prioridades já não eram aquelas que tinham construido. A criatividade e espontaneadade tão carateristica era agora apenas uma insessante busca pela fama.
Passados seis anos, e apesar de todas as alterações, o grupo resiste: Osvaldo, Elisio e Leo são os bailarinos e as atuações continuam.
Na Internet, os dados referentes a 2006/2007 já não se encontram disponíveis. O motivo, ninguém o consegue entender, nem os próprios fundadores.
"Não faço a minima ideia de qual o motivo para os videos terem saido da Internet. Acho triste, pois eram memórias que agora estão apenas guardadas nas nossas mente". A verdadeira história deste grande grupo de Kuduro é esta, contada por nós, que lhe demos vida. Apesar de tudo, nunca desejámos mal aos membros atuais, muito pelo contrário, só queremos o seu sucesso e felicidade"

Hoje, 2013, Hugo e Fábio acompanharam o sonho e são os dois elementos do grupo 2K, presença assídua na discoteca Orquidea. Os projetos futuros são muitos, e a vontade de os concretizar maior ainda. Pedro seguiu aquilo que sempre quis: produção musical. O "bichinho" pela musica que desde sempre o acompanhou continua presente e é assim que projeta o seu futuro.

Ana Rita Amorim

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