terça-feira, 28 de maio de 2013

À conversa com... Francisco Louçá: "Portugal sofreu uma sangria, como nunca aconteceu na história da nossa Democracia" (Parte II)

L.: Em relação ao aumento do défice de 4 para 4.5 acha que é necessário, para combater a austeridade ou ainda não é suficiente para mudar o destino da nossa economia?

F.L.:
 Acho que nada se define no nível do défice. O que importa é saber em que é que se gasta o dinheiro que se gasta. Porque gastar dinheiro não é uma qualidade, fazer défice não é uma qualidade, um défice maior ou menor não é uma qualidade. O que importa é o investimento, ora, o investimento está a cair. O investimento vai a cair neste governo, segundo as suas próprias projeções, 30%, em relação ao que era quando Passos Coelho tomou posse e por isso é que há o desemprego que há. O que importa saber é se se utilizou recursos com justiça. Por isso é que vem a justiça fiscal, que não há. Dei-vos o exemplo de que um grupo de, enfim, de … cavalheiros da nossa sociedade permitiu-se pagar 7.5% de IRS, quando devia ter pago quarenta e muitos, quando o seu dinheiro foi devolvido, ou seja, fizeram um crime fiscal que foi fugir para os offshores com dinheiro e foram recompensados por isso. Tiveram de pagar 7.5 de IRS, comparem com o dinheiro que se trabalharem pagam ou os vossos pais pagam… 7.5 % de IRS foi o que eles pagaram e com isso perdemos dois mil milhões de euros. E, portanto, perdemos dinheiro, isso é défice. Estes benefícios fiscais são défices.
Portanto, o verdadeiro problema da economia é a justiça fiscal, capacidade de investimento, capacidade de criação de emprego. Portanto, não permitirmos esta destruição que estamos a viver.

L.: Recentemente, houve uma “manifestação” dos reformados, com pensões milionárias, contra os cortes nas mesmas. O que é que pensa destas manifestações, numa altura em que existem reformados a viver com cerca de duzentos euros por mês?
F.L.: Eu não vi uma manifestação, vi uma conferência de imprensa, deve se estar a referir a isso. Ouça, acho que deviam ter vergonha. Porque são pessoas que, em geral, não têm uma pensão derivada do seu percurso contributivo, mas de um contrato especial que fizeram com o seu banco, ou seja, uma pessoa está dez anos num banco e tem uma pensão de quarenta mil euros, por mês. Como é o caso de Jardim Gonçalves que esteve, não sei se 15 anos, não sei se chegou a 15 anos à frente do BCP e tem, como sabe, uma pensão de cerca de 3 milhões de euros por ano, mais o acesso ao jato privado, seis guarda-costas e essas coisas assim. Ouça, isto… como é que se pode aceitar essa diferença? Isso é Portugal da desigualdade no seu melhor.

L.: Existem muitos portugueses, que dizem que os políticos quando saem do poder não são responsabilizados pelos maus atos que praticam, enquanto estão no poder. Porque é que esta situação acontece?
F.L.: A Situação dos Portugueses dizerem? ou a situação disso acontecer?
L.: A situação disso acontecer. 
F.L.: É que há muito populismo com o qual eu não me quero misturar. A ideia de que os políticos são todos iguais é uma ideia fascizante com a qual eu não me quero misturar, porque não são iguais. Eu votei contra a politica da Troika e houve quem aprovasse a politica da Troika, não há políticos iguais!
Agora, sobre a responsabilização eu acho que, na opinião pública, há uma mistura entre duas coisas completamente diferentes. Uma coisa é a responsabilização por atos de corrupção, por desbaratar dinheiros públicos… Eu lamento que o processo dos submarinos que é um processo de corrupção, tenha sido julgado como caso de corrupção com condenados, na Alemanha, que pagaram, não tenha sido julgado, em Portugal, com as pessoas que receberam, isso lamento e essa punição tem de ser feita, por justiça. Crimes de políticos, como crimes de empresários ou o que quer que seja… não faz a mínima diferença. Agora erros políticos são pagos politicamente, são pagos pelas eleições. Eu não estou de acordo com a ideia de que é preciso prender os nossos adversários políticos, porque estamos em desacordo com eles. Portanto, isso é populismo.
Eu sei que numa situação tão difícil como a portuguesa, vai ser comodo ser populista, não é?! A culpa é dos políticos. Desculpem, a culpa… o Passos Coelho foi eleito pelos eleitores, devia ser demitido. Mas a punição dele é ser demitido e não ser eleito na próxima vez. Punição, não é num sentido de dizer: é preciso prender o Passos Coelho porque ele assinou um memorando com a Troika que provocou desemprego e dificuldade na vida das pessoas.
Qualquer político deve ser preso, qualquer governante deve ser preso, depois de julgado, segundo as condições do direito. Agora confundir as duas coisas acho que é… perigoso.

L.: Acha que deveriam existir eleições antecipadas?
F.L.: Absolutamente! Acho que este governo devia ser demitido. Se houvesse um Presidente da República este governo era demitido.

L.: Como é que acha que estará o país daqui a 10 anos? Ainda estará em crise?
F.L.: É muito difícil fazer previsões em dez anos. Acho que Portugal tem pouco tempo para interromper este curso, acho que deve interromper muito brevemente. Agora, se continuasse o programa como o da Troika, daqui a dez anos a divida não está paga. As projeções do Fundo Monetário Internacional, basta vê-las, daqui a dez anos a divida é maior do que quando começou, segundo as projeções do Fundo Monetário Internacional. Em 2021 temos mais divida, do que em 2011. Ou seja, se vermos bem o que eles prevêem do efeito da sua política, Portugal sofreu uma sangria, como nunca aconteceu na história da nossa democracia e a divida é maior.
Depende do que nós conseguirmos fazer. É preciso correr com este governo e por um governo de gente decente que tem um programa e resposta às condições populares. Se isso for possível temos uma inversão, se não for… Portugal será um país em que os jovens estarão a viver em Espanha ou na França ou na Alemanha ou no Brasil ou em Angola ou o que for. E toda a nossa poupança vai para pagar os juros da divida que estão sempre a aumentar.
O Governo faz uma festa, quando fez uma emissão de juros de divida a 5.6%, ou seja, em dez anos pagamos 56% de juro, numa economia que está sempre a diminuir. Portanto, emprestam-nos cem, pagamos 156, daqui a dez anos. Bem, que negócio é este? Se a economia está a diminuir, pagamos 56% de juro? Não tem nenhum sentido. O Governo faz uma festa por uma tragédia, que é pagarmos um juro que não podemos pagar, ninguém pode pagar um juro assim, quando o seu rendimento é mais pequeno.
L.: Acha que deveríamos voltar a investir na atividade agrícola, na pesca…?

F.L.: Acho que sim. Em toda a produção. Portugal precisa de produzir., substituir importações, fazer exportações, ter uma vida económica.
L.: O que acha que é preciso fazer para melhor o PIB de Portugal?
F.L.: Produzir. 
L.: Obrigado.
F.L.: Bom trabalho.  


Aline Araújo; Pedro Emídio; Rute Fidalgo 

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